Como a Psicologia pode ajudar a mulher que tem endometriose
A endometriose é uma doença que vem sendo cada vez mais diagnosticada, não por ser uma doença nova, muito pelo contrário, mas porque os estudos avançaram e a tecnologia melhorou consideravelmente a forma de diagnóstico. Hoje entende-se que tratar a endometriose é muito mais do que cuidar apenas do aspecto físico/médico/orgânico. Já se sabe que para o tratamento da endometriose ser eficaz é necessária a abordagem multidisciplinar: o médico ginecologista deve ser especialista em endometriose, os demais profissionais de saúde também, pois existem características muito peculiares desta condição. É preciso um radiologista experiente em endometriose, nutricionista, fisioterapeuta, educador físico e psicólogo especialistas em endometriose. Todos devem estar muito alinhados nas particularidades que envolvem essa condição.
Cada caso deve ser tratado de modo único e personalizado, de acordo com a demanda que a paciente traz, isso também ocorre no mundo emocional. Trabalhar o lado emocional também se faz muito importante, afinal, inúmeros podem ser os prejuízos na vida da paciente: baixa qualidade de vida, perdas nas relações interpessoais e afetivas, dificuldades na sexualidade, possibilidade de infertilidade, perdas profissionais, depressão e ansiedade, presença constante de dor e estresse, sofrimento diante do percurso do tratamento. Um campo muito propício para a desregulação das emoções1.
Quando o mundo emocional está em desequilíbrio todo o mais acaba sendo afetado de modo intenso: a percepção sobre si, sobre o tratamento, sobre a dor, sobre as inter-relações e sobre o futuro. Alinhar e reequilibrar esses pontos é fundamental para que você consiga seguir de modo assertivo tanto no seu tratamento como na sua vida de modo geral.
Um programa estruturado de psicoterapia com estratégias provenientes das técnicas da terapia cognitivo-comportamental tem sido muito eficaz na mudança deste quadro. Dentro do processo de psicoterapia a paciente passa a aprofundar seu autoconhecimento, identificar melhor as emoções e suas funções, identifica os tipos de pensamentos que não ajudam em sua jornada, entende como lidar com tantos pensamentos automáticos que surgem e invadem nossa psique, percebe melhor seu comportamento e passa a notar o que está em suas mãos e onde pode aplicar mudanças. Tem a oportunidade de trabalhar a autoimagem, o autoconceito corporal e o resgate ao feminino saudável. É um processo, onde nos aprofundamos no mundo psíquico e evoluímos nossas habilidades emocionais.
Este método permite que a paciente se torne capaz de desenvolver e/ou fortalecer a habilidade de lidar com uma realidade tão complexa e envolta em um contexto extremamente desafiador. Ao identificar os gatilhos situacionais e/ou emocionais do seu contexto, é possível desenvolver estratégias mais adaptadas e positivas para que se torne novamente protagonista de sua vida e não mais espectadora de uma doença que toma conta de vários âmbitos do cotidiano. Saber lidar com uma doença que precisa de acompanhamento e controle é fundamental para alcançar uma melhor qualidade de vida.
Espera-se que da metade para o final do tratamento psicológico, o resultado alcançado seja o melhor enfrentamento da doença e consequentemente melhora nos quadros de depressão, stress e dor, muito característicos no quadro da endometriose1.
1 DONATTI L, RAMOS DG, ANDRES MP, PASSMAN LJ, PODGAEC S. Pacientes com endometriose que utilizam estratégias positivas de enfrentamento apresentam menos depressão, estresse e dor pélvica. Einstein. 2017;15(1):65-70.
Artigo escrito pela psicóloga Lilian Donatti
Psicóloga Lilian Donatti
Doutoranda em Ciências Médicas pela USP, mestre em Psicologia Clínica pela PUC-SP, especialista em Terapia Cognitivo-Comportamental pelo CTCVeda-SP, pós-graduada em Psicologia Clínica pela PUC-SP, graduada em Psicologia pela UNIFMU, psicóloga clínica em consultório particular. Criadora do Projeto PsicoEndologia – o tratamento emocional da endometriose por meio da Terapia Cognitivo-comportamental. Autora do livro: “O lado emocional da endometriose.”